Agradecimentos


Memórias do Livro


Era setembro de 2007. No aeroporto Afonso Pena, São José dos Pinhais, aguardava placidamente o voo para Brasília, onde me juntaria aos colegas de uma equipe de trabalho. Afastado dos afazeres cotidianos, sozinho, nessas ocasiões, o saguão de um aeroporto funciona mais ou menos como um templo budista: um espaço para meditação e reflexão. 

Naquela manhã, particularmente, estava triste com a perda recente e irreparável de meu saudoso pai, Herculano — um sujeito talentoso, apreciador das artes e da cultura. Na livraria, chamou-me a atenção um exemplar singelo, de título sugestivo: Você já pensou em escrever um livro? (Sonia Belloto, Editora Ediouro)

— Já... — respondi, vacilante. Aproveitei a ocasião para adquirir uma caneta esferográfica e um bloco de anotações; o primeiro de muitos desde então.

Em dezembro, já tinha o esboço de meu primeiro “romance de mistério”: o menino emasculado no Alto da Cruz, a invasão da cadeia de Ouro Preto, a morte de Anselmo, a República Paradiso. Estava quase tudo lá, ainda que os fatos e personagens viessem a sofrer, claro, contínuas e importantes transformações.

No início de 2008, pedi licença à família e passei cinco dias em Ouro Preto e Mariana, solitário, subindo e descendo ladeiras, visitando repúblicas, igrejas e outros tantos locais de interesse. Em Ouro Preto, o antigo Palácio dos Governadores, a Casa dos Contos, o Alto da Cruz e a Mina do Chico Rei foram alguns dos muitos lugares em que estive pessoalmente e serviram de cenário para as aventuras de Tomate, Caveira e Geena Brown. Em Mariana, o Museu de Arte Sacra, a Catedral Basílica e o antigo Seminário da Boa Morte, entre outros.

Naqueles dias, conheci pessoas, adquiri livros, mapas e folhetos, que me foram bastante úteis na fase de pesquisa. Agradeço à Dona Conceição, da Casa dos Contos, que me apresentou documentos microfilmados das irmandades, além de me indicar o ótimo livro do professor Caio Boschi, Os Leigos e o Poder, essencial para compreender a força e a influência das irmandades no período colonial.

Meus agradecimentos a Otávio Luiz Machado, pela generosidade e a oportunidade de suas pesquisas sobre o Movimento Estudantil e, em particular, as repúblicas de estudantes em Ouro Preto e Mariana.

Na vetusta Mariana, o desafio foi achar informações sobre o cotidiano dos seminaristas nos anos sessenta. O que teria causado, afinal, o fechamento do Seminário Maior São José e, em seguida, do Seminário Menor? Por indicação da AEXAM — Associação dos Ex-Alunos dos Seminários de Mariana, cheguei ao mineiro Marco Túlio.

Gentil, sem me conhecer pessoalmente, Marco gravou vários arquivos de áudio com respostas para algumas questões que lhe enviei por e-mail, ponto de partida para a minha modesta investigação. Em julho de 2008, indicou-me o psicanalista João Batista Ferreira, um ex-padre, que participou diretamente dos acontecimentos de 1966, ano da chamada diáspora dos seminaristas de Mariana.

Cultíssimo, generoso, João — como passei a tratá-lo em nossas mensagens — “viajou” comigo na história de Thomas e seus amigos; corrigindo, sugerindo mudanças ou, até mesmo, contribuindo, entre outras, com um sermão inteiro, do jeitinho que lhe encomendei.

Num jantar histórico no Baixo Leblon, zona sul carioca, presenteou-me com um livro seu de memórias, capa vermelha (como o diário do padre Anselmo), edição exclusiva. De quebra, apresentou-me a obra — em inglês — do professor Kenneth P. Serbin, pesquisador da Universidade de San Diego, Califórnia, versando sobre a história da Igreja Católica no Brasil. Curiosamente, o padre da capa discursando na Cinelândia, na famosa Passeata dos Cem Mil, era simplesmente — pasmem — o meu interlocutor! Um mês depois, o brasilianista lançaria, no Rio de Janeiro, a edição em português do seu Padres, Celibato e Conflito Social, pela Companhia das Letras. Na capital paranaense, em Santa Felicidade — literalmente —, recebi do amigo João um exemplar autografado, com a seguinte mensagem:

Caríssimo,

Uma pena a gente não se encontrar — mas haverá outras oportunidades. Espero que o meu livro lhe aporte subsídios para o seu romance. Quero ser o seu primeiro leitor!

Um abraço,

Kenneth P. Serbin

Rio, 13-8-08


Os três anos seguintes foram de incertezas e muito trabalho, limitado, diga-se, aos domingos e feriados, com direito a consultas no setor de Obras Raras da Biblioteca Nacional, no Rio; visitas à Biblioteca Pública do Paraná e vídeos no YouTube.

Em tempo, agradeço aos colegas Marcos Vinicius e Lis, pela Madona de Cedro, de Antônio Callado; Mauro de Paula Valle, pela Doce Vida Dura de República: Diário de Bordo, de Danilo Drumond; Betina Krieger, pelas fotos do Santuário em Congonhas; Hélio Dias, parceiro do delegado Alpoim. Aos meus leitores de primeira mão: Elisabeth Marquetti, Regina Azolin, Antônio Jordão, Lina Paula e Lano Carneiro, Marcos Henrique, Sergio Ricardo Valladares e João Elio Gracioli, fundamentais; a minha amiga Kyanja Lee e, claro, a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a concepção e depuração da obra em sua primeira versão.

Mas eis que o mundo dá voltas e o livro, que eu julgava pronto, passou por uma última (última?) e radical transformação: no início de 2012, entrou em cena o meu parceiro e conselheiro Felipe Colbert, incansável, que embarcou no desafio de reformar as estruturas de um prédio ainda em construção. Mais fácil, sem dúvida, teria sido começar tudo do zero.

Louvo aqui as orientações e o incentivo da amiga e editora Laura Van Boeckel Cheola, que apostou em nossa aventura literária, da capo, ao pé da letra. Nesta fase final, agradecimentos especialíssimos a Roseli Stelle e Marcos Pedri, a João Batista Ferreira, Marcos Henrique (bis) e Helena Gomes, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, competentíssima.

Enfim, nasceu a criança: República Paradiso... Alea jacta est!

Sergio Lang

Nenhum comentário:

Postar um comentário